terça-feira, 20 de abril de 2010

Incessante

Entardeceu, o sol larga a rua,
O candelabro agonia pela luz,
Entrevê meu corpo arfado
De intrépidas noites amado.

Que semblante de ferida,
Pura troça de prazer,
A dilua no sabor
Que me faz entorpecer.

Tem aura, expele,
Ar que me sufoca.
Teu nariz vocifera,
Por usurpar tua boca.

Disserto tua língua,
Sem arpejo nem calão,
Ósculos apaixonados me armam caminho,
Adulteram os poros de paixão.

Errante, discorro por teu ente curvilíneo,
Foco de indemne pilar,
Pedestal de razão irracional
Auge no tacto linear.

De volúpia os gémeos galgo,
Vislumbro o teu esgar,
No calor o frio se concebe,
Fímbrias árduas a espoletar.

Minha mão desliza, teu ser acalma,
Ludibria o inexperiente,
Na inquietude de amar,
Manipula todo o desejo incandescente.

Por animal devoto o íntimo aspira
Circunda o limbo a pairar,
O empedernido que o sustenta cede à alma,
Acutilante no deflagrar.

Rompem margens, quebram rosas,
De haste, inflamado,
Lubrifica teu eu presente,
De tão ausente altercado.

Teu ventre luta por sentir
Deleite que lhe é litigado
Qual larápio ávido de toque
Saque na tua pele emanado.

Coages-me à dor
Com escárnio de mulher
Teu delinear é catalisador
Teu sorriso o endoidecer

A infâmia nos assola
Se teu húmus no meu correr,
Que pontificante obra demo ergueu,
Se ao génesis não pertencer.

Ilusão tão credível
Imbuir-me no teu eu
Estorvo minha sombra amada
Culmino em apogeu.

Viver no amor
Com nosso sofrimento a arder
Ousemos em conluio partilhar
O que nos faz engrandecer.

Estendido neste leito
Percorro-me em ti,
Divago paulatinamente sobre mim
Sustento o que erigi.

Calor que a terra brota
Em seu crepúsculo eu me crio,
Tem alento de avassaladora
Que incauta me exibe o cio.

Do teu íntimo flamejante,
Faz de mim ser errante
Teu eterno amante
Neste périplo incessante.

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