domingo, 8 de maio de 2011

Em espelho

Nos sorrisos descobertos,
De uma timidez fugaz,
Que o agnóstico conquista,
Ao niilista tanto apraz.

Gera infame desconcerto,
Cria engenhos de pulsão,
Uma ferida no gelo,
Sólida rocha em combustão.

Fragilidade aparentada,
Temente à sumidade,
Um conjunto inverosímil,
Na intocável majestade.

A seu púlpito eu ascendo,
Como ordinário vassalo,
Minha vontade em exéquias,
Tua querença, meu regalo.

Leve franja os dedos correm,
Em sua orla jovial,
Tenazes brios me consomem,
Diabólico corpo celestial.

Por si juncos se vergam,
Na ausência o volúvel tolda
A seu ânimo minha vida apregoa,
Em seu corpo minha forma se molda.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Patriarca

Essa perna manca dá dois pontapés no planeta,
um grito de festejo, uma imensa carambola,
quem de nós se importa?
A amizade nos consola.

Cresce em mim a tua imagem,
de preceito esse respeito imperial,
que intransigente protege a prole,
sob a alçada solene de águia real.

Vives em minha infância,
qual prego cravado no chão,
tua harmónica sempre presente,
a alegria, o conluio, a comunhão.

Entre olhares nos entendíamos,
na nossa exaltada maneira de ser,
por tão ternos nos tomam,
quem realmente nos pôde ver.

Extingue-se o ar, fogem os dias,
o amor não perde acção,
apartam-nos por momentos, efémeros,
findos minutos de tempo vão,
enquanto soletras impenetrável nome,
estaremos novamente em reunião.

Muito do que tenho foi por ti,
Muito do que alcanço é para ti.

Em teu encalço...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Musa

Musa da lira,
Da harpa encantadora,
Indelével solta música,
Aclamada sedutora.

Tímidos raios se soltam,
Em teus olhos de um doce céu,
Por eles alcançamos a luz,
Sem eles o mundo é breu.

Advogas clareza, serenidade,
Reconcilias quem te rodeia,
Trilhas dogmas a pulso,
Minha doce plebeia.

De afortunada tendes o nada,
Irrealista no dédalo real,
Pecas serenamente sem dolo,
Com torneies e dança fatal.

Os que te vêem não esquecem,
Passado não torna lenda,
Quem te tem não evoca,
O porvir é nossa senda.

Em teu mar exultas a paixão,
Sem trono, tu és rainha,
Todos aclamam teu cepto,
Olvidam que és minha.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Plenitude

Quando gelo com olhar incendeias,
Quando toque permite consolo,
Quando sangue fervilha nas veias,
Quando flor irrompe do solo,
Quando rios fluem nos vales,
Quando vulcão rasga a montanha,
Quando alegria supera os males,
Quando dias sucedem sem resenha,
Quando mar galga as dunas,
Quando mundo gira na palma,
Quando despojo vale fortunas
Quando júbilo transborda na alma,
Quando vento expurga o pó,
Quando teu voo trespassa as teias,
Quando sol não vive só,
Quando chuva brilha em candeias,
Quando ébrio sem vinho tocar,
Quando instinto supera a razão,
Quando desassossego foge no ar,
Quando tristeza fenece à paixão.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Encontro Perdido


Se o mundo gira sem cessar
E a vida corre sem parar
De que te vale hesitar
Perder o sonho a pensar
No que viver te vai trazer
O que um dia irás ser
Procura o teu íntimo poder
Tudo o que te faz crescer
Emana a tua chama, o teu calor
Exalta o teu imenso amor
Impossível é não querer
Alcançar é tudo ter
É a dádiva do dador
É o incisivo, o predador
É a droga que te faz voar
Viajar no mesmo lugar

E se tudo o que queres
É um dia fugir
Subir sem receio de cair
Nada podes sentir
Somente esquecer a saudade e partir

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Necessidade

Preciso viver,
Preciso ter,
Preciso ver,
Preciso ser.
Tenho fome,
Tenho sede,
Tenho vontade,
Tenho liberdade.
Quero sol,
Quero rua,
Quero noite,
Quero lua.
Peço fogo,
Peço ar,
Peço água,
Peço mar.
Fujo à dor,
Fujo à torpeza,
Fujo à fealdade,
Fujo à tristeza.
Renego a existência,
Renego a ignorância,
Renego a ausência,
Renego a constância.
Aprendo a ler,
Aprendo a saber,
Aprendo a sentir,
Aprendo a sofrer.
Sinto-me distante,
Sinto-me fugaz,
Sinto-me errante
Sinto-me quem jaz.
Como me encontro?
Quem me procura?
Como revivo?
Quem é a cura?
Não sei quem sou,
Não sei quem serei,
Não sei quem fui,
Não sei onde errei.
Vejo a preto,
O mundo de cor,
Cego pela raiva,
Mudo em clamor.
Solto os nós,
Correntes que envolvem,
Rasgo os ideais,
Vermes que me consomem.
Da vontade irei fugir,
Esquecer o que não vi,
Deixarei de precisar,
Pois só preciso de ti.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Perene

Equinas correntes rasgam carnes,
Tentáculos irrompem vísceras sem dor,
Lanças trespassam minha pele,
No húmus transborda a cor.

Acolhem-no ânforas repletas,
Pálidas como a pele que dilaceras,
As Medusas me sugam o tutano,
Discorre nas fímbrias de heras.

Liberto a seiva, solto farpas,
Pontas que outros ferem de mordazes
Quimeras de dor e júbilo laças,
Em arsenais são tenazes.

Inflamam lastros sem pavio,
Os restos que a podridão apregoa,
Cai o Rei, erige perene súbdito,
Corta a cabeça, mas resta a coroa.

Jaz curvado teu ente,
Em memórias de coração descrente,
Na imensidão defunta, a calma
Foi-se a luz mas fica a alma.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sublime

Vejo o tempo que sinto,
Como cordas a tilintar,
Em uma voz de sereia,
Fonemas de frustre encantar.

Percorrem-me os óstios que emanam
Sibilos de tanto desejar,
As plumas e névoa palmilham,
Tua forma de arauto estrelar.

Irados percursos trauteiam,
Quem de ti não pode privar,
A ganância que todos consome,
Por ténue sorriso vislumbrar.

Como ouro no escuro cintila,
Ao ignorante e ingénuo olhar,
Meus olhos de pedra evaporam,
À sã magia sublime(ar).

domingo, 4 de julho de 2010

O fim...

Findou um passado,
Que no presente nos amola,
Em amarras nos enlaça,
Em teias nos enrola,
De tentáculos cáusticos,
A alegria nos consome,
Queremos aparta-lo,
Contrariando nos envolve,
Constringe nosso peito,
Como réptil esfomeado,
Queria sentir meu coração pulsar,
Não consigo, fui esventrado.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Temor

Por temor,
de temer
sua temeridade,
como temente
à divindade,
em voz trêmula
atemorizo
teu sorriso,
de verdade.