terça-feira, 22 de junho de 2010

Temor

Por temor,
de temer
sua temeridade,
como temente
à divindade,
em voz trêmula
atemorizo
teu sorriso,
de verdade.

Ruído silencioso

Era uma vez um ser, que em seu divino infortúnio fora privado do dom da palavra e da eufonia do som. Seus lábios viviam selados, por sua laringe infecunda nada declamar. Os ouvidos resumiam-se a duas cartilagens encaracoladas, que amiseraravam a estética facial. Toda a vida almejou falar e ouvir! Conhecia o mundo pelo olhar, gosto, odor e tacto. Exaltava quatro sentidos… Mas era infeliz. Queria libertar as emoções que a alma polvilhavam, ouvir a melodia e entoação da voz do homem.
De tanto suplicar, por seu desígnio, o desejo foi-lhe concedido. Falou e ouviu, a própria voz e a voz de outros, que imensidões tinham para exprimir. De tanto palrar e escutar, esqueceu o próprio pensar, sua moral. Fora invadido pelo espaço em redor, os conceitos e preconceitos do mundano, o afável da palavra, a eloquência da língua, contrastada no sentir da intriga e da arma silábica. Percebeu que o mal jorra da boca dos seres, culpando habilmente seus incautos superegos. Não queria ouvir a dor, a lamentação, a maldade. Não queria exclamar mágoa nem raiva. O ser queria o silêncio…