segunda-feira, 26 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
In memorium
“Em memória” de um país chamado Portugal e apelidado de “Tuga”. Quanto significado toma a nossa estupidez, e menosprezo pela nossa identidade! Já fomos Viriatos, Lusitanos, Conquistadores, Descobridores, para num presente cinzento virarmos ao “tuguismo”. Deve ser a salubridade do riso que fundamenta este conceito. Pelo menos, é o sentimento que me desperta – riso! Rio-me da parvónia que se cultiva, do inexacto ao escabroso. E rir faz bem… Relaxa-nos, liberta-nos, estimula-nos. E quem melhor para gozar senão o próprio e legítimo dono do seu riso.
De um país memorável, criámos um país de memórias.
De um povo que tudo conseguia, por vias directas ou transversas, indestrutível, irrevogável, geramos mentecaptos, cultivámos o “chico-espertismo” (mil perdões aos Franciscos deste país, por tão mau uso de seu nome), que de tão divulgado, supera a legítima “saudade”, como bandeira de nosso espaço.
No “dia da Liberdade”, como tantos dos nossos governantes mini-ditatoriais apelidam, que julgam ser donos desse mesmo direito, porque supostamente por ele lutaram. Muitos em seus palácios faustosos enquanto o povo vivia, comia e dormia em misérias (que para eles eram alheias – e o continuam a ser). Não cabe em mim a vontade de questionar as razões de celebração da efeméride? Vamos viver sempre agarrados a este dia? Uma celebração de algo que não existe? Um povo que vive num fosso, da extinta nobreza às actuais famílias feudais, tentáculos que alastram no púlpito social, que pateiam e satirizam o pobre proletariado, arremessando-lhe parcos cêntimos que os mantêm felizes em seus lugares. Como é fácil alegrar o português…
Vivem-se celebrações do dia do “direito”, o dia em que vontade se sobrepõe ao dever, o dia em que a imaginação subjuga a resignação, o dia em que a liberdade sodomiza a incauta opressão, que de tão naive se vê apartada do real, por outorgação da maioria.
Perdão, maioria?
Meu lapso, lamento. Uma ínfima minoria, quiçá?
Eu sou um dos “filhos pós-abril de setenta e quatro”. Nada vivi desses dias, nada sofri com os bufos desse tempo, com os ventos de troça, com os leitões e cabritos dos senhores da vila, com a repartição das sardinhas no prato, que alimentava três irmãos e uma mãe faminta, acompanhada de gotículas de azeite e três pedaços do tubérculo que por tempos idos alimentava porcos – salve a reserva do pai, que era a única fonte de sustento – a degradante miséria do trabalhador, para nutrir um estado que vivia abastado. Desconheço a totalidade cronológica dessa vivência. Salve-se a transmissão de meus avós, meus pais e manuais de história e o inigualável livro da terceira classe da bela mocidade do estado novo, que tanto me apraz. Haja algo de positivo no respeito pela nossa identidade. O único facto que deveríamos ter conservado desse tempo.
Como a história se encarrega de recordar, o esperado transforma-se em exasperado, o inesperado reverte-se no futuro. Quão curiosa é a evolução. Talvez a única ideologia positiva que poderíamos extrair de quarenta e um anos de ditadura, tenha sido a única que se perdeu – o amor por nós próprios; a luta por um país melhor, um estado acolhedor para quem nos deseja, um espaço de oportunidade, um cerne de inteligência e bom senso, foco de liberdade e justiça, apartado da trivial futilidade.
Infelizmente não. Celebramos o que não existe. Dinheiro em festas e arraiais, que tantos necessitados ajudaria, em vez da bajular os engalanados, como se de humildes serventes de um povo se tratassem.
É lastimável. O povo está cada vez mais remetido à sua profunda inocência.
Mas eu sou esperançoso! Por mais colérica e vermelha que seja a superfície, todo o interior é prado de esperança. Do estrume actual, nova geração rebenta, floresce, frutifica.
In memorium de um país passado, terminemos com o Vetustas vicem legis obtinet e sedimentemos um vitorioso futuro, na verdadeira liberdade.
Vox unius, vox nulliu.
De um país memorável, criámos um país de memórias.
De um povo que tudo conseguia, por vias directas ou transversas, indestrutível, irrevogável, geramos mentecaptos, cultivámos o “chico-espertismo” (mil perdões aos Franciscos deste país, por tão mau uso de seu nome), que de tão divulgado, supera a legítima “saudade”, como bandeira de nosso espaço.
No “dia da Liberdade”, como tantos dos nossos governantes mini-ditatoriais apelidam, que julgam ser donos desse mesmo direito, porque supostamente por ele lutaram. Muitos em seus palácios faustosos enquanto o povo vivia, comia e dormia em misérias (que para eles eram alheias – e o continuam a ser). Não cabe em mim a vontade de questionar as razões de celebração da efeméride? Vamos viver sempre agarrados a este dia? Uma celebração de algo que não existe? Um povo que vive num fosso, da extinta nobreza às actuais famílias feudais, tentáculos que alastram no púlpito social, que pateiam e satirizam o pobre proletariado, arremessando-lhe parcos cêntimos que os mantêm felizes em seus lugares. Como é fácil alegrar o português…
Vivem-se celebrações do dia do “direito”, o dia em que vontade se sobrepõe ao dever, o dia em que a imaginação subjuga a resignação, o dia em que a liberdade sodomiza a incauta opressão, que de tão naive se vê apartada do real, por outorgação da maioria.
Perdão, maioria?
Meu lapso, lamento. Uma ínfima minoria, quiçá?
Eu sou um dos “filhos pós-abril de setenta e quatro”. Nada vivi desses dias, nada sofri com os bufos desse tempo, com os ventos de troça, com os leitões e cabritos dos senhores da vila, com a repartição das sardinhas no prato, que alimentava três irmãos e uma mãe faminta, acompanhada de gotículas de azeite e três pedaços do tubérculo que por tempos idos alimentava porcos – salve a reserva do pai, que era a única fonte de sustento – a degradante miséria do trabalhador, para nutrir um estado que vivia abastado. Desconheço a totalidade cronológica dessa vivência. Salve-se a transmissão de meus avós, meus pais e manuais de história e o inigualável livro da terceira classe da bela mocidade do estado novo, que tanto me apraz. Haja algo de positivo no respeito pela nossa identidade. O único facto que deveríamos ter conservado desse tempo.
Como a história se encarrega de recordar, o esperado transforma-se em exasperado, o inesperado reverte-se no futuro. Quão curiosa é a evolução. Talvez a única ideologia positiva que poderíamos extrair de quarenta e um anos de ditadura, tenha sido a única que se perdeu – o amor por nós próprios; a luta por um país melhor, um estado acolhedor para quem nos deseja, um espaço de oportunidade, um cerne de inteligência e bom senso, foco de liberdade e justiça, apartado da trivial futilidade.
Infelizmente não. Celebramos o que não existe. Dinheiro em festas e arraiais, que tantos necessitados ajudaria, em vez da bajular os engalanados, como se de humildes serventes de um povo se tratassem.
É lastimável. O povo está cada vez mais remetido à sua profunda inocência.
Mas eu sou esperançoso! Por mais colérica e vermelha que seja a superfície, todo o interior é prado de esperança. Do estrume actual, nova geração rebenta, floresce, frutifica.
In memorium de um país passado, terminemos com o Vetustas vicem legis obtinet e sedimentemos um vitorioso futuro, na verdadeira liberdade.
Vox unius, vox nulliu.
Dias "Mundiais"...
Questiono-me sempre que leio, ouço, vejo estas duas palavras, sem qualquer significado!
Qual a razão da sua existência?
Lutemos contra a fome, dando de comer, alimentando nossos egos por no julgarmos bons filhos, em dias de ser mãe, em horas para ser pai, por cultivarmos pomares, regarmos as plantas no dia da árvore, onde arrancamos o lenho para lavrar nossos livros, que de mão em mão suada, consomem a água, que guerras cria e homens mata, sem direitos, sem julgo, sem pudor, num estímulo incontrolável, como bago de cafeína que borra teu almoço, de pão e vinho, peçonha social que te abraça à amizade, à mulher que me beija, e te expande em horizontes, que tua razão não vislumbra…
Eis a origem do teu “dia mundial”!
Qual a razão da sua existência?
Lutemos contra a fome, dando de comer, alimentando nossos egos por no julgarmos bons filhos, em dias de ser mãe, em horas para ser pai, por cultivarmos pomares, regarmos as plantas no dia da árvore, onde arrancamos o lenho para lavrar nossos livros, que de mão em mão suada, consomem a água, que guerras cria e homens mata, sem direitos, sem julgo, sem pudor, num estímulo incontrolável, como bago de cafeína que borra teu almoço, de pão e vinho, peçonha social que te abraça à amizade, à mulher que me beija, e te expande em horizontes, que tua razão não vislumbra…
Eis a origem do teu “dia mundial”!
terça-feira, 20 de abril de 2010
Incessante
Entardeceu, o sol larga a rua,
O candelabro agonia pela luz,
Entrevê meu corpo arfado
De intrépidas noites amado.
Que semblante de ferida,
Pura troça de prazer,
A dilua no sabor
Que me faz entorpecer.
Tem aura, expele,
Ar que me sufoca.
Teu nariz vocifera,
Por usurpar tua boca.
Disserto tua língua,
Sem arpejo nem calão,
Ósculos apaixonados me armam caminho,
Adulteram os poros de paixão.
Errante, discorro por teu ente curvilíneo,
Foco de indemne pilar,
Pedestal de razão irracional
Auge no tacto linear.
De volúpia os gémeos galgo,
Vislumbro o teu esgar,
No calor o frio se concebe,
Fímbrias árduas a espoletar.
Minha mão desliza, teu ser acalma,
Ludibria o inexperiente,
Na inquietude de amar,
Manipula todo o desejo incandescente.
Por animal devoto o íntimo aspira
Circunda o limbo a pairar,
O empedernido que o sustenta cede à alma,
Acutilante no deflagrar.
Rompem margens, quebram rosas,
De haste, inflamado,
Lubrifica teu eu presente,
De tão ausente altercado.
Teu ventre luta por sentir
Deleite que lhe é litigado
Qual larápio ávido de toque
Saque na tua pele emanado.
Coages-me à dor
Com escárnio de mulher
Teu delinear é catalisador
Teu sorriso o endoidecer
A infâmia nos assola
Se teu húmus no meu correr,
Que pontificante obra demo ergueu,
Se ao génesis não pertencer.
Ilusão tão credível
Imbuir-me no teu eu
Estorvo minha sombra amada
Culmino em apogeu.
Viver no amor
Com nosso sofrimento a arder
Ousemos em conluio partilhar
O que nos faz engrandecer.
Estendido neste leito
Percorro-me em ti,
Divago paulatinamente sobre mim
Sustento o que erigi.
Calor que a terra brota
Em seu crepúsculo eu me crio,
Tem alento de avassaladora
Que incauta me exibe o cio.
Do teu íntimo flamejante,
Faz de mim ser errante
Teu eterno amante
Neste périplo incessante.
O candelabro agonia pela luz,
Entrevê meu corpo arfado
De intrépidas noites amado.
Que semblante de ferida,
Pura troça de prazer,
A dilua no sabor
Que me faz entorpecer.
Tem aura, expele,
Ar que me sufoca.
Teu nariz vocifera,
Por usurpar tua boca.
Disserto tua língua,
Sem arpejo nem calão,
Ósculos apaixonados me armam caminho,
Adulteram os poros de paixão.
Errante, discorro por teu ente curvilíneo,
Foco de indemne pilar,
Pedestal de razão irracional
Auge no tacto linear.
De volúpia os gémeos galgo,
Vislumbro o teu esgar,
No calor o frio se concebe,
Fímbrias árduas a espoletar.
Minha mão desliza, teu ser acalma,
Ludibria o inexperiente,
Na inquietude de amar,
Manipula todo o desejo incandescente.
Por animal devoto o íntimo aspira
Circunda o limbo a pairar,
O empedernido que o sustenta cede à alma,
Acutilante no deflagrar.
Rompem margens, quebram rosas,
De haste, inflamado,
Lubrifica teu eu presente,
De tão ausente altercado.
Teu ventre luta por sentir
Deleite que lhe é litigado
Qual larápio ávido de toque
Saque na tua pele emanado.
Coages-me à dor
Com escárnio de mulher
Teu delinear é catalisador
Teu sorriso o endoidecer
A infâmia nos assola
Se teu húmus no meu correr,
Que pontificante obra demo ergueu,
Se ao génesis não pertencer.
Ilusão tão credível
Imbuir-me no teu eu
Estorvo minha sombra amada
Culmino em apogeu.
Viver no amor
Com nosso sofrimento a arder
Ousemos em conluio partilhar
O que nos faz engrandecer.
Estendido neste leito
Percorro-me em ti,
Divago paulatinamente sobre mim
Sustento o que erigi.
Calor que a terra brota
Em seu crepúsculo eu me crio,
Tem alento de avassaladora
Que incauta me exibe o cio.
Do teu íntimo flamejante,
Faz de mim ser errante
Teu eterno amante
Neste périplo incessante.
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